Marlowe
A chuva caía como se fosse dado o aviso do juízo final, lá fora o céu sem estrelas era compensado pelos faróis dos carros que, cansados, cruzavam de um lado ao outro da cidade como que perdidos em meio a tempestade que se anunciava.
O barulho das ruas chega abafado ao interior do carro, o limpa-vidros atropela um ou outro som num ritmo cadenciado e gago.
- Tchu-tchu-tchu-uuuck....vrrrr.... Tchu-tchu-tchu-uuuck....
A brasa do cigarro brilha, vermelha. Ouço o estalido do fumo. Aperto meus olhos contra a fumaça que sai. Com mais um trago profundo e lento mantenho-me acordado.
A madrugada chega depois de alguns cigarros. É quando escuto um bip seco e agudo. As luzes da mercedez brilham por um segundo, indicando meu alvo.
Abro calmamente a porta do carro, arremessando o cigarro para longe. Em minha outra mão, escondida entre o casaco, uma .44
Só quando estou a três passos é que a vítima percebe minha presença. Tudo acontece muito rápido.
Luzes de um carro acende em minhas costas iluminando os cabelos longos e loiros a minha frente. Seu rosto angelical, sua boca vermelho sangue me surpreendem por um segundo.
- Uma mulher...
Ouço então um, dois estalos. Minha mão fraqueja, sinto um gosto de sangue na boca e caio. Ainda tentando manter a consciência, escuto.
- É ele?
- Sim, é o Marlowe - diz a mulher.
- Não tão bom quanto aquele Marlowe dos livros...
Tento virar o rosto para ver quem me pegou pelas costas e murmuro.
- Muito melhor que aquele...
E apago.
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